Débora de Oliveira

Tem dias que minha manhã de trabalho é punk…

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…Minha e dos meus colegas que organizam o campinho. Somos um time e, quando uma jogada não dá certo, pode comprometer tudo de bacana que preparamos antes da bola rolar no ar.
Nos cobramos, nós exigimos maiores esforços, não aceitamos que erramos e ficamos chateados com a gente mesmo, ficamos abatidos até, levamos bronca do chefe, discutimos entre nós para buscar nosso melhor e o melhor do outro.
Tudo porque no fim não adianta eu fazer bem e meu colega deixar a desejar. Nem meu colega se puxar ao máximo, e eu fazer menos do que poderia e deveria. Todos são um só no produto final.

Incontáveis os dias nesses anos todos de profissão que cheguei em casa querendo esquecer do mundo, para ver se assim esquecia algo que tivesse dado errado no meu trabalho. Sempre fui a primeira a me cobrar demais, exigir demais de mim e dos meus esforços. Fora que em casa também fui sempre muito cobrada para sempre “ir além de onde as pessoas comuns desistiam”, e nessa meta nas estrelas, quando ficava no meio do caminho era sempre uma frustração na conta da escadinha da vida profissional.

Sim, gente! Eu choro às vezes porque não fiz mais. Eu não durmo às vezes porque achei pouco o que levei até vocês. Eu me sinto envergonhada quando percebo que errei e quando sei que, por minha causa, uma equipe toda levou as culpas. E quantas vezes vocês ficam sabendo disso?! Raramente, né?!
Pode o mundo estar desabando nos bastidores que, no ar, levamos a mesma alegria e empolgação de sempre. Porque é só nosso melhor que queremos que chegue até vocês.
Muitas vezes nem meus amigos mais próximos sabem que foi um dia ruim. Nem minha família imagina que foi um dia ruim. Nem quem trabalha comigo em outros setores percebe que foi um dia ruim. Silencio este que talvez me dê forças para, no outro dia, fazer ainda melhor e corrigir o que causou tanto mal estar nesse dia ruim.
Agora imagina você sendo jogador de futebol. Onde toda essa cena acontece em muitas partidas com milhares de espectadores de erros, falhas, deslizes, dias infelizes…

No momento que tu mais prefere a solidão de ti mesmo com a tua consciência, para entender o que realmente acontece, é uma multidão que te julga, cobra, sofre com tuas falhas ou com o pouco que tu fez e que deveria ter sido bem mais.
Lidar com a paixão das pessoas é uma imensa responsabilidade. É fazer das próprias fragilidades o momento de maior sofrimento de pessoas que tu jamais imagina quem sejam, e que dependem muitas vezes de ti para a única alegria da semana.

Não estou defendendo os jogadores do Inter. É o trabalho deles, uma escolha profissional de cada um deles, o ônus da grande oportunidade que é representar um time grande.
Mas ontem no primeiro gol do Atlético o que mais me chamou a atenção foram todos os jogadores de defesa de cabeça baixa, como se entregues a um momento onde parece que as forças vão indo embora e nada mais faz sentido em campo.
Não quero falar de técnica, tática, escolhas do treinador sobre escalação, falhas da direção. Fico pensando, como seres humanos que são, como deve estar sendo difícil para eles, compreender que lição é essa que precisam aprender e que ainda não estão conseguindo assimilar.

Muitos não dormem mais a noite. Choram. Não conseguem mais ter vida tranquila longe dos gramados. Porque são reféns das consequências desse mal momento que assola o clube, o time, a torcida.
É só pensando nisso que lamento por quem está vivendo cada segundo de infortúnio nesse brasileirão. Ninguém merece viver na insegurança de não conseguir as próprias expectativas, que dirá a de tantas pessoas fiéis e apaixonadas pelas cores que tu representa.

Que esse filme de terror vire uma jornada de heróis até o final, para resgatar a honra e a força de quem está adormecido, mas não morto.

Foto: Ricardo Duarte / SC Internacional

Comentários

Comentários

1 comentário

  1. marcus

    28 de setembro de 2016 at 05:17

    Ta na hora do sasha comecar a fazer festa de debutantes ja que ele danca bem com a bandeirinha de escanteio kkkkkk

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