Débora de Oliveira

SIRVAM NOSSAS FAÇANHAS…

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A Semana Farroupilha chega ao seu auge nos próximos dias e eu lembro com carinho os tempos de infância quando dançava pelo colégio, dançava na invernada artística do CTG, e saia a competir pelos rodeios embalada pela Tirana no Lenço e o Xote de Carreirinhas. Tempos maravilhosos aqueles em que cultuava as tradições o ano inteiro, e rodopiava o meu vestido com um orgulho que não cabia no peito, sempre sorrindo para o peão que me conduzia pelos salões de baile.

Era a pureza da infância e juventude entregue ao movimento tradicionalista, vivendo e se divertindo em um ambiente completamente familiar, onde pais e filhos se acompanhavam nas noites de fandango e nos dias de churrasco.

Felizes os tempos de ensaio, a preparação para os dias de competição, e o encontro com os amigos que já eram parte da família. A gente ficava no vazio do galpão, imaginando cada um que nos assistiria e o que estaríamos levando até eles com nosso compasso em ritmo de “ai bota aqui, ai bota ali o seu pezinho…”. Era como se quiséssemos ver neles, a alegria que sentíamos assim que a gaita apontava o primeiro acorde e nos fazia encontrar na dança, um pedaço da nossa história.

No rodeio era competição, tinha que ser melhor que os outros grupos, buscar o diferencial entre as mesmas coreografias e as mesmas regras. E, nesse diferencial, estar a frente dos demais.

Assim vejo o esporte. Todos convivem com as mesmas regras, treinam para buscar os mesmos acertos, mas é o algo mais que faz de um melhor que o outro. esse algo mais, aqui no Rio Grande do Sul, nem sempre significa mais qualidade. Pode significar mais vontade, mais entrega, mais dedicação, mais indignação pela vontade de acertar e vencer. E esse sempre foi o referencial do futebol Gaúcho.
Nos palcos, ou nos campos, quem vem aqui, sabe que precisa jogar diferente. Quem veste uma camisa daqui, sabe que terá que se entregar como nunca o fizera. Sabe que precisa ir além dos próprios limites, se pilchar de bota e espora para agradar a torcida e se tornar parte real do baile da bola.

É nesse ritmo meio vanerão dentro das quatro linhas, que se fizeram grandes ídolos por aqui, muitos nem gaúchos são, mas incorporaram tão bem o espírito farrapo, que se tornaram parte de uma revolução nas grandes conquistas dos clubes e, em consequência, na própria carreira de cada um deles.

Não somos modelo a toda terra, mas já conquistamos boa parte dela com a bola porque fomos modelo da nossa própria cultura, tradição e história. E isso não depende do 20 de setembro, aqui tem que ser bagual o ano inteiro.

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